sábado, 27 de janeiro de 2018

A incrível coincidência das bolsinhas /Zezeth Nicoliello e Solange Ayres


E as coincidências acontecem. Numa publicação de Zezeth Nicoliello no facebook, acabo de achar irmã gêmea de minha bolsinha. No caso de Zezeth, o tio dela levou as meninas para passear no histórico Parque das Águas de Caxambu. Eram as primas Adriana e Adalgisa. O tio havia comprado para as mais velhas uma bolsinha para cada uma e,  na hora de tirar a foto, a bolsinha de Zezeth foi parar na mão da menorzinha. Zezeth, claro, fez caras e bocas. Com grande possibilidade, a bolsinha de confecção artesanal tenha sido comprada no mesmo lugar, nas barraquinhas próximas ao Parque. No meu caso a bolsinha de palha foi presente do padrinho Jorge, casado com a madrinha Lolita, que não tinha filhos, me "adotou" como sua afilhada. Foi ele quem financiou meus estudos no Colégio Normal Santa Terezinha. O casal vinha todo ano, na época do meu aniversário, do Rio de Janeiro, e ficavam hospedados lá em casa. Sempre íamos ao Parque das Águas juntos ele me enchia de guloseimas, presentes e... uma bolsinha igualzinha a da Zezeth.
Foto:
Arquivo privado de Zezeth Nicoliello
Arquivo privado de Solange Ayres

sábado, 13 de janeiro de 2018

Memórias de Tenório / Onofre Edson dos Santos, o antigo vendedor da Casa Oriental da cidade de Caxambu



E foi em 10 de dezembro de 2017, que Onofre Edson dos Santos, recebeu em sua casa, em Caxambu, Graça Pereira Silveira para uma entrevista exclusiva ao Blog da Familia Ayres/ Histórias e Memórias da cidade de Caxambu. Onofre que atende por Tenório, pertenceu ao quadro funcional da tradicional Casa Oriental. Ele nos alegrou com suas memórias e revelou uma grande surpresa: ha 64 anos, foi quem emitiu o recibo acima à Arminda Ayres, casada com José Ayres, (filho de Gervásia Ayres de Lima e José Trançador-filho). Com vocês...


Foto:
Recibo/arquivo privado da Família Ayres
Vídeo:
Entrevista realizada por Graça Pereira Silveira, em dezembro de 2017, Caxambu.
Revisão:
Paulo Barcala

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

sábado, 6 de janeiro de 2018

A padaria União Caxambu e a história de outros padeiros e seus estabelecimentos panificadores


A primeira propaganda de uma padaria na povoação de Caxambu data de 26 de julho de 1883, quando Targino Pereira Noronha se une a Fernando Levenhagen e juntos abrem a Padaria União Caxambu. Este seria o primeiro registro conhecido de propaganda publicada em um jornal de uma padaria na povoação.

Nem bem o redator de O Baependiano, que escrevia em abril de 1883, sonhando com os pães, empadinhas e licores da Padaria e Confeitaria Java, de São Paulo, situada na rua São Bento, próximo ao largo do Rosário, frequentada por políticos e fazendeiros, e talvez por ele próprio, quando foi mandado para São Paulo para estudar. Amaro sonhava com os quitutes que pudessem serem embarcados de trem, em direção ao povoado. O esperado ramal de trem até Caxambu? Ah, somente no ano de 1891 o trem apitaria na estação de da cidade. 

Targino, o sócio

Vamos então aos padeiros. Primeiro o Targino. Targino Pereira de Noronha, nascido em 8 outubro de 1856, era filho de 6a geração do fundador de BaependiTomé Rodrigues Nogueira do Ó. Ele casou-se de primeiras núpcias com Maria Luiza da Rocha, filha de Venâncio da Rocha Figueiredo, em 5 de julho de 1884, na cidade de Caxambu. Targino enviuvou-se e casou-se em  segundas núpcias com Olympia de Noronha de Castro filha de Domiciano Plácido de Noronha e Anacleta Placidina de Castro. Todos eles de famílias tradicionais e conhecidas tanto em Baependi como em Caxambu.

Targino tentou se inscrever como eleitor na paroquia de Baependi, para o ano de 1883, mas foi recusado, pois não conseguiu comprovar que o seu estabelecimento comercial, isto é, a Padaria, tivesse pagado impostos dois anos seguidos conforme a lei exigia. O imposto anual cobrado era 12$000 Réis por estabelecimento, conforme a tabela de impostos da "Indústrias e profissões" do ano de 1881. Claro, a padaria União Caxambu foi criada em 1883, e a carência era de 2 anos. Só era possível se inscrever como eleitor aquele que tivessem "cabedal", isto é, dinheiro. E ser eleitor, leitores dava status social. Nas votações do ano de 1885, Targino foi finalmente incluído na lista... graças à Padaria União Caxambu. No ano de 1884 ele aparece no Almanack Sul Mineiro como dono de "secos e molhados". Acreditamos que a padaria deveria também comercializar outros produtos, como as "vendas", muito comuns no interior de Minas, onde se achava de prego, velas a tecidos e... pão.

O sócio Fernando Levenhagen 

Fernando Levenhagen, filho de imigrantes alemães, nasceu em 18 de março de 1861, em Joinville, Santa Catarina. Muito jovem emigrou do sul do país para Minas. Primeiro ele fez uma parada em São José do Rio Pardo, na província de São Paulo, para se casar com a baependiana Isalina de Castro, em 20 de fevereiro de 1882. A região de São José do Rio Pardo prosperava com a produção de café, razão pela qual atraiu muitos imigrantes atingindo o seu  ponto alto nos anos de 1880. Mas, por  algum motivo, eles se mudaram de lá, e em 1883 o casal veio a se estabelecer em Caxambu

Em Caxambu, Fernando, com apenas 22 anos, resolve então abrir um negócio em que a familia já tinha experiência: uma padaria. O segundo marido de sua irmã Helene Francisca Levenhagen, Leoncio Hypolito Van-der-Heyden era proprietário de uma em São FranciscoSanta Catarina, assim como seu irmão Franz Levenhagen, que tinha também uma padaria em Antonina, no Paraná. Ele, de alguma forma, aprendeu o ofício de padeiro e assim entra de sociedade com Targino.

O padeiro na estrada de ferro

No ano de 1884, Fernando Levenhagen entra com um requerimento em Baependi, como morador de Caxambu, solicitando à Câmara para ser nomeado Fiscal de Caxambu, pois o cargo estaria vago (foto). A câmara negou o pedido respondendo que não poderia nomeá-lo, porque não havia o tal cargo na povoação. Estaria ele querendo mudar de profissão? Viver somente da renda de pão e bolos era difícil, além de ter que dividir os lucros com um sócio. Ele estava à procura de emprego que lhe desse estabilidade financeira, pois o seu primeiro filho, Raul Levenhagen, já estava a caminho.


Por sorte, a Rede Ferroviária estava com planos de expansão das ferrovias no Sul de Minas, e Fernando vê sua chance de obter um emprego.  E a chance veio. Com a abertura do ramal até Três Corações da Minas-Rio, em 1884, ele conseguiu uma vaga, como consta no documento achado (foto acima) do ano de 1888, (foto acima) exercendo cargo de Agente da Estação na cidade de Conceição do Rio Verde, conhecida como Contendas. Assim a vida dele e da família foi regida pelos trilhos entre Soledade, Passa QuatroPouso Alto e Caxambu. Fim da sociedade?

Padaria Caxambu do senhor João Sourioux


Em 21 de marco de 1888, é aberta na povoação uma nova padaria, denominada Padaria Caxambu, situada no largo de Nossa Senhora dos Remédios, portanto, no largo da Igreja, de propriedade de João Souriox, que aprendeu o ofício em São Paulo, onde trabalhou "na melhor padaria da cidade". Segundo o jornal O Baependiano, ele fazia o melhor pão francês. "O Sr. João Sourioux abriu aqui uma (padaria), que começou a funcionar hoje, no largo de N. dos Remédios. Era uma necessidade que sentia nossa povoação." Era a Padaria Caxambu concorrente da Padaria União Caxambu? O que teria acontecido? Pela formulação do texto "era uma necessidade que sentia nossa povoação", podia significar que a Padaria União Caxambu não estava mais funcionando. Vejamos...


As coincidências documentais comprovam que Fernando Levenhagen estava trabalhando na Rede Ferroviária, quando Seu João Sourioux abriu a Padaria Caxambu. Um anúncio de junho de 1889: "Aluga-se uma casa em bonita e saudável situação, sendo a mesma composta de 4 peças e tendo cozinha e dispensa, e alguma mobília. Para maiores informações no escritório desta tipografia ou NA PADARIA CAXAMBU". Ah sim, a padaria do senhor Sourioux ainda estava lá. A Padaria União Caxambu? Não encontramos mais seus registros. Nos registros genealógicos da Família Levenhagen, ele era ainda proprietário/sócio do estabelecimento em 1895. Fim da história?

Não. A vida continua... O filho de Fernando Levenhagen, Raul Levenhagen, seguiu a carreira do pai, agora na ordem inversa: Ele começou como agente da Estrada de Ferro Rede Mineira, conforme documento de 1918, e posteriormente abriu uma padaria, constando no livro de estatísticas de 1935. Estava na família.


Agora sim, fim da história.
Leitam também:
Padaria e Pianos/ Dos Tabuleiros à primeira panificadora na povoação de Caxambu
Foto:
O Baependiano, anúncio.
Estatísticas do Estado de Minas Gerais.
Fonte:
O Baependiano
ALMANAK SUL MINEIRO - 1884, organizado por Bernardo Saturnino da Veiga.
Tröl, August in LENHAGEN, NACHRICHTEN VOM DER FAMILIE, 1897, Hamburgo.
PARANHOS, Paulo, Ruim mais vai, O desenvolvimento da estrada de ferro no sul das Minas Gerais e a chegada do trem a Caxambu.
DA SILVA, Joao Luis Maximo, ALIMENTACAO DE RUA NA CIDADE DE SAO PAULO (1828-1900), Sao Paulo, 2008.
(1) CASTRO, Fulgêncio, in Guia para uma viagem às Aguas Medicinais de Caxambu, Província de Minas Gerais, 1873.
LEMOS, Floriano, Correio da Manha, 1941
Revisão:
Paulo Barcala

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Partiu de nós / Solon Soler 1936-2018


Partiu ontem, Solon Soler para a eternidade. Aos seus ente queridos e amigos, nossos sentimentos.


Foto:
Arquivo privado da Família Soler
Leiam aqui a biografia completa de sua família: A Chácara das Uvas / O ramo dos Solers

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Padarias e Pianos/ Dos Tabuleiros à primeira panificadora na povoação de Caxambu





Antes de existir uma padaria na cidade, Caxambu teve suas quitandeiras. Elas foram as primeiras  a comercializarem produtos como broas, doces, antes de existirem as padarias. Os quitutes eram servidos em tabuleiros e esteve presente nas Minas Gerais desde os primeiros séculos de colonização como parte do sistema de abastecimento das cidades. As quitandeiras eram em sua maioria, constituídas de mulheres escravas ou forras e era uma forma de ganhar algum dinheiro. Muitas vezes o trabalho era organizado por brancos. 

Assim escreveu Fulgêncio de Castro, no ano de 1873: Pelas ruas da povoação mercam-se diariamente em tabuleiros saborosos biscoitos de polvilho, excelentes broinhas de fubá mimoso, pão de ló, doces sequilhos de várias espécies. 

A primeira unidade panificadora de Caxambu pelos relatos de Floriano Lemes, foi inaugurada em 1877, de propriedade de Maciel Cleto da Rocha em sociedade com seu irmão Caetano. A padaria ficava  na esquina, em frente ao Hotel Caxambu. Em 1878 eles passaram o negócio para Joaquim Ferreira Alves Madeira, proprietário da Fazenda Morro Queimado, no município de Baependi, que tinha uma sociedade com Antonio Tristão de Oliveira. O estabelecimento era daquelas "vendas" do interior e funcionava como uma loja de secos e molhados, além de vender café, bebidas e... pão. Depois o predio  foi vendido a Domingos Gonçalves de Mello, onde mais tarde funcionou a Confeitaria Bechara, mas isto foi muito tempo depois...

As padarias pelo Sul de Minas afora

O surgimento das padarias na história do Brasil  esta ligada a urbanização das províncias. À medida que as povoações cresciam, surgiam os estabelecimentos panificadores. O Almanaque Sul Mineiro, dos anos de 1874/1884, comprova que as cidades do interior de Minas eram muito mal servidas de panificadoras; na verdade elas quase não existiam. Claro, cada casa fazia seu bolo, biscoito de polvinho, como na tradição da cozinha mineira, usando a farinha de milho e mandioca para o consumo doméstico. 

Novamente aqui Fulgêncio de Castro em seu livro "Guia para Águas minerais" observa que "Em todos mencionados hotéis a mesa consiste ordinariamente em feijão, ervas, arroz, carne de porco ou vaca, galinha, ovos biscoitos de povinho e pão (raras vezes)". 

Então pão era mesmo um artigo raro e de luxo. Além do que as pequenas povoações só eram habitadas nos fins de semana, quando o povo vinha da roça para a missa no domingo e aproveitavam para fazer compras nos mercados locais e a venda de produtos era suprida  pelas "quitandeiras" que vendiam seus produtos em tabuleiros pela cidade.

Algumas padarias apareceram nos arquivos como na cidade de Cristina que... "tinha 7 ruas e duas praças e uma Padaria/Confeitaria", e... tocada por duas mulheres: Laura Delminda de Castro Medeiros e Beatriz Antonia de Castro. Povoações maiores como Pouso AlegreItajubáSão Gonçalo do Sapucaí tinham as suas, mas como dito, não funcionam todos os dias: "contando-se todavia diversas casas em que, sem regularidade, mas com frequência, são feitos muitos preparados de farinha de trigo, polvilho, milho, etc.. Na freguesia de São José dos Botelhos, "padaria em que fazem também biscoitos, roscas, etc". Itajubá tinha  "uma padaria regular".  Passa Quatro: "A localidade possui uma padaria, que trabalha diariamente de propriedade de Bernardino Pontes Gomes. Três Pontas não havia padaria regular na cidade, mas em diversos dias da semana encontra pão à venda. Onde? Não informaram. Alfenas existia uma padaria "padaria regular", tendo à frente dos negócios a padeira: Maria Claudina de Souza dias.

Pianos e padarias


Algumas singularidades apareceram nas estatísticas de nossa pesquisa associada às padarias: os pianos. Alfenas  tinha sete pianos, Cristina, cinco: "Tem a cidade uma padaria, que trabalha três vezes por semana, uma banda de musica regular, cinco pianos, etc". Monte Sião "possuía uma padaria que trabalhava três vezes por semana" e dois pianos. Conceição do Rio verde tinha uma padaria que funcionava diariamente e dois pianos. A padaria de Caxambu, segundo o Almanak de 1884, trabalhava todos os dias e a povoação tinha... seis pianos!  Mas quem quebrou todos os recordes foi Baependi, não de padarias, mas de pianos: dez deles! Gentes, pianos... por tabela ficamos sabendo que o povo no mais ermo rincão do sertão mineiro tinha poucas padarias, mas pianos. Ah, e Caxambu uma fábrica de vinhos! Uma nota importante: um dos pianos pertencia ao senhor José Maria Costa Guedes, o proprietário da Casa Guedes e ainda esta lá até hoje.
Foto:
Almanak Sul Mineiro
Colagem, Rügendes, Debret.
Fonte:
O Baependiano
ALMANAK SUL MINEIRO - 1884, organizado por Bernardo Saturnino da Veiga.
Tröl, August in LENHAGEN, NACHRICHTEN VOM DER FAMILIE, 1897, Hamburgo.
PARANHOS, Paulo, Ruim mais vai, O desenvolvimento da estrada de ferro no sul das Minas Gerais e a chegada do trem a Caxambu.
DA SILVA, Joao Luis Maximo, ALIMENTACAO DE RUA NA CIDADE DE SAO PAULO (1828-1900), Sao Paulo, 2008.
(1) CASTRO, Fulgêncio, in Guia para uma viagem às Aguas Medicinais de Caxambu, Província de Minas Gerais, 1873.
LEMOS, Floriano, Correio da Manha, 1941
Revisão:
Paulo Barcala