quinta-feira, 5 de abril de 2018

As cores das Lembranças / Uma casa no Chapeo


Lembranças tem cores. O relevo montanhoso da região ao fundo, hoje pertence ao Parque Nacional da Serra do Papagaio e ainda hoje conserva sua beleza, atraindo turistas e amantes da natureza. Para a Família Ayres/Lima estas serras tem um significado especial. Não somente porque são belas, mas também porque nos contam muitas histórias do nosso passado.

A casa pertenceu a Pedro Francisco de Lima e  Lina Amelia de Lima. Ele filho de Francisco Ignacio de Lima (1862-?) e Emilia Prudenciana de Jesus (?-?), neto de José Ignacio de Lima (1835-?) e Fraujina Hororina de Jesus (?-?) e bisneto de João José de Lima e Silva (1798-1875) e Joana Thereza Ribeiro de Lima (1807-1860). Mas quem era essa gente toda? Ah, vamos contar...

Este pode ser o único e os mais antigo registro de uma residência da Família Lima/Ayres na Região. A casa foi construída no Bairro do Chapeo, hoje zona rural de Baependi, onde os seus bisavós João José de Lima e Silva (1798-1875) e Joana Ribeiro de Lima (1807-?) se mudaram com seus filhos e escravos, por volta do ano de 1853. João José de Lima e Silva é, até agora, o mais antigo ancestral da Família Ayres/Lima e suas ramificações. Eles constaram no sensu de Pouso Alto, no ano de 1839, antes de se mudarem para o Chapeo. E tinham endereço! Eles moravam no Quarteirão 2, Fogo 17 e a família tinha três crianças: Virgolina Balbina de Lima, José de Lima e Silva, avô de Pedro, Teresa Ribeiro de Lima e mais cinco escravos: Adão, Vicente, Benedito, Celestina, e o pequeno José de dez anos.

Maria Ribeiro de Lima/Ayres, que se casaria com José Fernandes Ayres, meu bisavô, apelidado de Trançador (que deu origem ao nome do Bairro Trançador), originado o ramo da Família Ayres, ainda não havia nascido.


Quais os motivos da família ter se mudado para o Chapéu não sabemos, mas a história nos dá algumas pistas. A região tornou-se grande produtora de tabaco e produtos que abastecia tanto o comércio regional, como a Corte do Rio de Janeiro, nos tempos do Brasil Colonia. Nos nossos arquivos, o bisavô de  Francisco, João José Lima e Silva, era possuidor de um plantel relativamente grande de escravos, vinte, quinze a mais de que quando foram registrados em Pouso Alto. Poderíamos dizer que eles não eram tão pobres assim, pois adquirir escravos era necessário ter "cabedal", isto é, dinheiro e os escravos eram caros no mercado. Então estaria tudo ligado.

A história

A cidade de Baependi desenvolveu-se às margens da primeira grande via de comunicação regular do Brasil, a Estrada real, que ligava Minas ao mar, citando o poeta Milton Nascimento, ao porto da cidade de Paraty, onde o ouro e os produtos agrícolas eram exportados ou contrabandeados, como queiram, para Portugal.

Mas este tempo foi o tempo do ouro. Na região de Baependi, as lavras eram superficiais, e ouro mesmo quase ninguém viu. As esperanças de encontrar o metal precioso em grande quantidade se esvaíram e, do sonho de se enriquecer, ficou somente a dura realidade: sobreviver. Nossos antepassados dedicaram-se a produção de tabaco, milho, feijão, criação de gado como todos os produtores da região.

Henrique Monat descreve em seu Livro Caxambu, publicado no ano e 1894, sobre o fim da opulência da região. Quando ele chegou à Baependi, a cidade já sofria a decadência ha duas décadas. O golpe final para ele foi a libertação dos escravos, ainda bem.

"Baependi, hoje em decadência, floresceu até uns vinte anos passados; o tabaco fez-lhe a reputação de município opulento, e na história do império os grandes princípios democráticos ali encontraram defensores heróicos. Foi berço de homens ilustres nas ciências e na política. Hoje, não tem tabaco para dous cigarros, e vive de recordações, a ver crescer a fama de Caxambu, como uma mae velha e exausta ve, cheia de orgulho e espererancas, elevar-se o filho que amamentou.
As charutarias do Rio se expõem rolos de cigarros que de Baependi só temos dizeres do rótulo; e infeliz cidade nem energia tem mais para protestar o papel gratuito de testa de ferro."
A lei de 13 de maio foi o golpe de misericórdia dado a sua lavoura, ja decadente".

Hoje restam as nossas lembranças, e a casa do avô pintada, colocada na parede como parte das memórias da Família Lima/Loesch, de Caxambu. Estava tudo ligado, tudinho.
Foto:
Arquivo privado da Família Lima/Loesch

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